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queimas primitivas

As queimas primitivas eram praticadas por povos ancestrais, cuja cultura está relacionada com uma forma particular de pensar e viver que apresentam um forte vínculo com a coletividade. Uma prática que nos aproxima da antiguidade, em uma relação quase tântrica. ​O lirismo das composições e tonalidades de cores contrasta com a força da queima.

Em contato direto com a chama do fogo, a argila se submete à força e potência da natureza. ​As queimas são carregadas de significados históricos. Ao serem praticadas na atualidade assumem novas significações.

Essa existência que pulsa entre a representação e a coisa em si, é o ponto de interesse da minha pesquisa pessoal sobre a cerâmica. ​A peça carrega uma aparência que evoca simbologias e iconografias assumidas ao longo da história das culturas ao redor do mundo.

tipos de queimas primitivas

SAGAR 
É uma técnica chinesa que utiliza caixas refratárias para acomodar a peça cerâmica durante a queima e protege-la das cinzas da fornalha. Utilizamos o mesmo principio mas com finalidade inversa: fazer com que esse invólucro ao redor da peça não permita o escape de gases oriundos de materiais orgânicos (cascas de frutas, flores, folhas), sulfatos, óxidos e carbonatos, para que penetrem no corpo cerâmico a fim de se obter uma variedade de cores e tons.​

RAKU TRADICIONAL 
É uma técnica japonesa de queima, praticada desde o séc XVI. Ela está relacionada com a cerimônia do chá e com os princípios do Wabi Sabi, que significa a beleza da imperfeição, do inacabado, da irregularidade e da incompletude. O ceramista que faz Raku Original deve ser um membro da família Raku. O que praticamos é na verdade uma queima inspirada na técnica japonesa. ​

RAKU NU 
É uma variação do Raku tradicional. Diferencia-se pelo fato da peça apresentar superfície desenhada pela fumaça e sem a presença de esmalte cerâmico (daí o nome “NU”, aquela que está despida de esmalte). Os desenhos das peças são feitos pela fumaça do fogo. Desse modo o ceramista trabalha em conjunto com as forças da natureza. Também relaciona-se com a valorização da natureza e da simplicidade​

QUEIMA DE BURACO 
É um fator de conexão, seja entre as pessoas que conduzem a queima (sempre feita coletivamente), ou entre o ceramista e o seu entorno. Porque quando lidamos com as técnicas ancestrais de queima nos relacionamos diretamente com o meio ambiente, ficando muito atentos a ele. Percebemos desde o som do crepitar do fogo até as variações climáticas. ​A industrialização causou um sentimento de distanciamento entre o ser humano e ambiente que nos cerca, Talvez esse seja o motivo pelo qual o ceramista se interessa pelas práticas artesanais de queima, como forma de reconexão com a natureza.​

FUMOS INDIANOS 
A queima de fumos indianos é uma técnica fascinante realizada em tambores, utilizando gravetos, papel, serragem e outros combustíveis orgânicos. Esse processo é semelhante à queima de buraco, mas apresenta vantagens significativas: dispensa a necessidade de cavar o solo e elimina os desafios relacionados à umidade, que geralmente exigem mais tempo e combustível. Com a combinação de materiais orgânicos e sais solúveis, essa técnica produz cores e efeitos únicos, realçados pela presença da madeira e da serragem no processo. Cada peça que emerge dessa queima é marcada por tonalidades naturais e padrões singulares, conectando tradição e beleza artesanal.

O que mais me atrai nessa técnica, porém, é a possibilidade de reutilizar tecidos velhos de algodão. Lugares como o Deserto de Atacama, onde montanhas de roupas descartadas se acumulam, são um triste exemplo da agressão humana ao meio ambiente. Integrar tecidos velhos na queima é minha pequena contribuição para reduzir o impacto ambiental e valorizar esses materiais que, de outra forma aumentariam o lixo no deserto. 
A queima de fumos indianos é mais do que uma técnica cerâmica; é uma prática que une criatividade, sustentabilidade e respeito à natureza.

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